Você já ouviu a expressão o "choro é livre"? Ela significa que você pode ser frágil, reclamar sobre, demonstrar sua insatisfação, literalmente não precisa "engolir o choro". Mas você já parou para pensar quando o choro não é livre?
Tenho observado nas redes sociais um movimento que vai de encontro a atitudes voltadas para a ação: "Está triste", "ansioso""sofrendo", por exemplo, foca em algo produtivo, "não pensa" e vai para ação. Contudo, não podemos nos esquecer de que ao nos voltarmos para a ação acabamos não entrando em contato com esses sentimentos que consideramos aversivos, e desta forma, este comportamento pode estar nos impedindo de ressignificamos (atribuir novo significado) as nossas experiências e compreender o motivo de nos sentirmos assim. É claro que saber qual é a causa do nosso sofrimento não significa que iremos parar de sofrer, porém, na maioria das vezes nos permite saber mais sobre nós.
Mas, devemos parar de agir? Claro que não, agir, se voltar para a ação é muito importante, porém, temos que aprender a distinguir quando isso apenas mascara o real problema. Temos que compreender o sofrimento humano como algo normal, sofrer não é uma anomalia, o ser humano não nasce isento desta condição. No entanto, ficar preso nele também pode não nos levar a lugar nenhum, por isso a relevância de uma análise individual, o que funciona para um, talvez não funcione para o outro e está tudo bem, pois somos pessoas diferentes, com emoções que podem ter o mesmo nome, mas que tem uma percepção totalmente diferente na vida de cada um.
Mas, devemos parar de agir? Claro que não, agir, se voltar para a ação é muito importante, porém, temos que aprender a distinguir quando isso apenas mascara o real problema. Temos que compreender o sofrimento humano como algo normal, sofrer não é uma anomalia, o ser humano não nasce isento desta condição. No entanto, ficar preso nele também pode não nos levar a lugar nenhum, por isso a relevância de uma análise individual, o que funciona para um, talvez não funcione para o outro e está tudo bem, pois somos pessoas diferentes, com emoções que podem ter o mesmo nome, mas que tem uma percepção totalmente diferente na vida de cada um.
Segundo Hayes e Smith (Apud Conte 2010):
As pessoas sofrem. Elas não têm simplesmente dor - o sofrimento é muito mais que isso. Os seres humanos lutam contra suas formas de dor psicológica; suas emoções e pensamentos difíceis, suas lembranças desagradáveis, e suas necessidades e sensações não desejadas. Elas pensam nisto e se preocupam com isto, têm ressentimento disto, antecipam e temem isto (...) ao mesmo tempo demonstram uma enorme coragem, profunda compaixão e uma habilidade notável de seguir em frente mesmo a despeito de suas histórias pessoais difíceis. Mesmo sabendo que podem se machucar, os humanos amam outros humanos. Mesmo sabendo que vão morrer um dia, eles se preocupam com o seu futuro. Mesmo sabendo da falta de sentido em muitas coisas da vida, abraçam ideais.
. Pensando neste contexto gostaria de introduzir o conceito de Esquiva experiencial:
Esquiva experiencial é definida como tentativa de evitar, alterar, fugir ou mudar diretamente eventos privados, como por exemplo, as sensações corporais, emoções, pensamentos e lembranças desagradáveis. Exemplos de esquivas experienciais incluem tentativas de supressão de pensamentos, intrusões, entorpecimento emocional, esquiva de "emocionar-se", fugas, esquiva de ambientes, etc. (Conte, 2010)A esquiva na nossa vida não é de todo ruim em situações que precisamos nos esquivar de um carro que vem em nossa direção, por exemplo, em ocasiões em que precisamos controlar alguns sentimentos/pensamentos como numa apresentação de trabalho. Ou finalizar uma prova ao qual não temos o minimo interesse de fazer.
Mas quando pensamos em outros contextos, a esquiva ou a fuga desses eventos dificultam a nossa vida quando tais respostas tendem, em longo prazo, a fortalecer o sofrimento, quando nos afastamos desses eventos privados que mantém o sofrimento, como por impedirem que o indivíduo se exponha a situações que poderiam ajudar na extinção destes eventos privados, na aquisição de novos comportamentos, da presença de consequências positivas em sua vida e o aumento do seu bem-estar.(Conte, 2010)
O individuo pode sofrer por antecedência ao sentir medo de entrar em contato com estes eventos privados considerados aversivos, desta forma, procura estratégias para não ter relação com estas circunstâncias (assistir Tv, passear, sair com os amigos e etc.). Mas em contrapartida, o individuo cai na armadilha de sempre está se esquivando desses contextos, e isto pode ter algumas consequências, como:
- Ficar sobre controle dos significados que atribuímos a nossa experiência;
- Esquiva experiencial;
- Falta de contato com o momento presente (ruminando o passado ou planejando o futuro)
- Apego excessivo a um conceito sobre si mesmo (esquecendo-se da percepção que podemos ser flexíveis e mutáveis);
- A falta de clareza e de compromisso com os próprios valores (que podem se traduzir como indecisão, procrastinação ou impulsividade pela inabilidade em abrir mão de reforçadores imediatos em favor de consequências mais distantes e mais relevantes) . (Valentim, 2017)
Mas, qual o caminho?
Existem estrategias que podem nos ajudar a entrar em contato com estas emoções. E uma das técnicas utilizadas é o Mindfulness:
Kabat-Zinn (1990) define mindfulness como uma forma específica de atenção plena – concentração no momento atual, intencional, e sem julgamento. Concentrar-se no momento atual significa estar em contato com o presente e não estar envolvido com lembranças ou com pensamentos sobre o futuro. Considerando que as pessoas funcionam muito num modo que o autor chama de piloto automático, a intenção da prática de mindfulness seria exatamente trazer a atenção plena para a ação no momento atual. ‘Intencional’ significa que o praticante de mindfulness faz a escolha de estar plenamente atento e se esforça para alcançar esta meta. Está em contradição com a tendência geral das pessoas de estarem desatentas, ou de se perderem em julgamentos e reflexões que as alienam do mundo que as cerca.
Para estar com atenção concentrada no momento atual, os conteúdos dos pensamentos e dos sentimentos são vivenciados na maneira em que se apresentam. Eles não são categorizados como positivos ou negativos. ‘Sem julgar’ significa que o praticante aceita todos os sentimentos, pensamentos e sensações como legítimos. A atitude de não julgar está em contraste com a tendência automática das pessoas de investirem na luta contra vivências aversivas, deixando de viver o resto da sua realidade. O praticante não trata de forma diferenciada, determinados sentimentos (por exemplo, raiva contra uma pessoa admirada ou medo de algum aspecto de si mesmo), pensamentos (como idéias imorais) ou sensações (por exemplo, dor na ausência de uma lesão ou diagnóstico que a justifiquem). São suspensas as racionalizações pelas quais as pessoas costumam truncar suas percepções de eventos inquietantes para encaixá-los nas suas opiniões preconcebidas.
(...) Pesquisa empírica também mostrou que tentativas de supressão, ou esquivas de conteúdos aversivos facilitam ruminação mental e levam ao aumento involuntário da atenção seletiva para tais conteúdos (Roemer & Borkovec, 1994), enquanto o treino de mindfulness reduz estes processos (Teasdale, 1999b). (APud Vandenberghe e sousa 2006)Para finalizar, diante do exposto, gostaria que você me respondesse: O choro é livre?
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Referências:
CONTE, Fátima Cristina de Souza. Reflexões sobre o sofrimento humano e a análise clínica comportamental. Temas psicol., Ribeirão Preto , v. 18, n. 2, p. 385-398, 2010 . Disponível em . acessos em 19 abr. 2019.
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